Entre gritos, acordes e memórias: o EMO VIVE levou Porto Alegre de volta aos anos 2000
- Paulo Cézar Dos Reis
- 5 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de jun.
Com um line-up de respeito e a promessa de uma noite cheia de nostalgia, o festival EMO VIVE desembarcou em Porto Alegre nesta quarta (04/06), no Araújo Vianna, reunindo nomes que marcaram época como Mae, Emery, Anberlin e Fresno — além de abrir espaço para o som autoral da banda local Projeto Hare. Mesmo sendo uma quarta-feira e com o público chegando aos poucos, o clima era de reencontro entre fãs e artistas que moldaram a identidade de uma geração. Camisetas pretas, delineador pesado, estampas quadriculadas em preto e branco e um mar de nostalgia mostravam que, para quem viveu (ou redescobriu) aquela época, a cena continua mais viva do que nunca.
A abertura ficou por conta do Projeto Hare, grupo local que apresentou composições autorais em um show leve e cheio de atitude. Apesar da plateia ainda estar se formando, a recepção foi calorosa. E não foram só os fãs que curtiram: outras bandas da noite elogiaram o som do grupo durante seus próprios shows, mostrando a importância de apoiar a cena independente e dar visibilidade para novos talentos.
Na sequência, o Mae subiu ao palco com o álbum The Everglow, em sua primeira apresentação no Brasil. Mesmo ainda com casa parcialmente cheia, os músicos foram simpáticos, acessíveis e mostraram uma energia contagiante. O som melódico e a entrega em faixas como “Suspension” e “Someone Else’s Arms” conquistaram quem estava ali — e o comentário geral era de surpresa positiva: uma banda que muitos não conheciam profundamente, mas saíram amando.

Emery, com o disco The Weak’s End, entregou uma das performances mais intensas da noite. O show, apesar de curto, foi eletrizante. Gritos, mãos para o alto e uma catarse coletiva marcaram a apresentação. Para quem não conhecia a fundo o trabalho da banda, foi uma revelação. E para os fãs mais antigos, uma volta no tempo recheada de emoção e peso na medida certa.
O momento mais aguardado da noite veio com o Anberlin, que tocou o clássico Never Take Friendship Personal. Com Matty Mullins (do Memphis May Fire) assumindo os vocais no lugar de Stephen Christian, a banda fez um show histórico. A presença de palco de Matty foi avassaladora, conduzindo hinos como “Paperthin Hymn” e encerrando com a poderosa “Godspeed”. Além das faixas do álbum principal, ainda rolaram algumas surpresas de discos posteriores. A conexão emocional da banda com o público — e sua influência direta em nomes brasileiros — ficou clara e potente. A Fresno, por exemplo, já citou o Anberlin como referência, e a troca entre essas cenas foi visível no palco.
Fechando a noite, a Fresno veio com a promessa de revisitar seus três primeiros álbuns: Quarto dos Livros, O Rio, a Cidade, a Árvore e Ciano. Embora a nostalgia estivesse no ar e o repertório trouxesse músicas marcantes dessa fase inicial, o setlist acabou soando um pouco repetitivo para os fãs mais atentos — incluindo canções que já fazem parte dos shows atuais da banda. Com cerca de 40 minutos de duração, o show soou curto para o momento especial que o evento representava. Ainda assim, foi uma apresentação carregada de afeto e entrega, como sempre se espera da Fresno.

Participar do EMO VIVE foi como abrir um diário antigo e reencontrar partes de quem fomos e ainda somos. Apesar dos pequenos deslizes de tempo e repertório, a noite cumpriu sua missão: reconectar uma geração com as músicas que a moldaram. Emo não é só um estilo — é memória viva. E ontem, ela gritou alto em Porto Alegre.
E o melhor: ainda tem mais três dias de festival pela frente!
O EMO VIVE agora segue para o Rio de Janeiro (06/06, Fundição Progresso) e depois para São Paulo, com dois shows seguidos na Audio (07 e 08/06). Emo vive — e ainda tem muito o que cantar.
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