top of page
Capa_to_na_grade.png

Esteban Tavares martiriza e conforta ao revisitar “Saca la Muerte de tu Vida” em SP

Atualizado: 21 de jul.

Show especial na Casa Rockambole trouxe músico em celebração 10 anos de seu álbum mais consistente e mostrando suas principais qualidades artísticas

Foto por: Ellen Artie
Foto por: Ellen Artie

Em dado momento de seu show na Casa Rockambole, em São Paulo, no último sábado, 19, Esteban Tavares promoveu um autoafago ao reconhecer que “Saca la Muerte de tu Vida” (2015), seu segundo álbum solo cujo 10º aniversário ganhou celebração em turnê, nasceu “sob pressão”. Quando anunciou à época um projeto de financiamento coletivo (crowdfunding) para viabilizar o disco, apenas duas de suas 13 músicas estavam prontas. “Parece que deu certo”, arrematou.


Havia fundamento no tapinha nas próprias costas. Àquela altura, o cantor, compositor e guitarrista já tinha feito praticamente todos os presentes cantarem os versos cortantes de canções como “Janeiro”, “Pra Ser” e “Chacarera da Saudade”. O gaúcho de Camaquã sabia que a noite na charmosa e cheia (mas não lotada) Casa Rockambole, responsável por concluir a citada tour comemorativa do álbum, era apenas mais um capítulo de uma relação sinérgica com seu público — o mesmo que, uma década antes, permitiu que “Saca la Muerte de tu Vida” fosse concretizado. Antes, o artista já havia reconhecido: se não fosse pelos fãs, sequer teria orçamento para gravar o material.

Foto: Ellen Artie
Foto: Ellen Artie

O álbum de 2015 foi o segundo passo de uma carreira solo que, por razões difíceis de se explicar, ficou relegada ao underground — espaço bem diferente do ocupado há duas décadas pela Fresno, banda que trouxe Esteban como baixista e vocalista de apoio entre 2006 e 2012. Um dos motivos para o reconhecimento reduzido pode residir, justamente, na aposta em uma sonoridade bem mais diversa que a explorada por seu ex-grupo, um dos baluartes do emocore brasileiro. No catálogo solo, o músico vai do emo ao também melancólico blues, quase sempre em ritmos mais cadenciados, e salpica referências complementares que transitam desde a milonga, pela presença da sanfona (ou gaita, como chamam lá no Sul) como complemento e não protagonista, até gêneros mais alternativos/indie, notado em “O que não vem” a partir do uso pontual de efeitos de guitarra mais carregados e até batidas ligeiramente pop.


Foto: Ellen Artie
Foto: Ellen Artie

Dá certo, como o próprio reconheceu em cima do palco. Seja pela celebração em si ou por reconhecer a força do álbum homenageado, Tavares ofereceu ao público paulistano um repertório com execução quase integral de “Saca la Muerte de tu Vida”. Dez das 13 faixas do tematicamente vulnerável — e sonoramente consistente — trabalho de 2015 entraram no setlist; “Janeiro”, diga-se, ainda foi reprisada ao fim do set exclusivo do disco. Desta seção, destacaram-se:


— a já citada emo-bluesy “Chacarera da Saudade”, com o protagonista voando nos solos em sua ardida Stratocaster clara;

“As Terças Podem se Inverter”, provavelmente a canção que arrancou reações mais entusiasmadas da plateia;

— e “Carta aos Desinteressados”, de lirismo mais direto e até ali a quarta faixa a referenciar cigarros e o ato de fumar (a título de curiosidade, houve ainda uma quinta menção em “Segunda-feira”, mais adiante).


Foto: Ellen Artie
Foto: Ellen Artie

Findado o tributo ao seu segundo álbum solo, Esteban dividiu o restante do tempo de set em dois momentos. Primeiro, executou sozinho um par de canções ainda mais melancólicas — “Noites de Berlim” e “Mundo”, esta original do Abril. Depois, trouxe de volta a competente banda formada por Wysrah Moraes (baixo; curiosamente tocando com o braço direito quebrado), Rodrigo Veiga (teclados e sanfona) e Eduardo Machado (bateria) para um encerramento mais focado em “¡Adiós Esteban!” (2012), seu primeiro disco longe de grupo. Se não em mensagem, ao menos em som há uma proposta mais acalentadora em “Sophia”, “Segunda-feira” e “Pianinho”. O encerramento com “Sinto Muito Blues” teve gaita (de boca) assumida pelo convidado César Lascano, músico gaúcho responsável pela competente, mas pouco memorável apresentação de abertura.


Foto: Ellen Artie
Foto: Ellen Artie

Retomar “Saca la Muerte de tu Vida” para uma celebração ao vivo soou além de uma mera movimentação nostálgica. Serviu para mostrar como Esteban evoluiu como compositor e performer e, em especial, o impacto de sua obra à parte da Fresno em um séquito restrito, mas fiel de fãs. Talvez falte chegar a públicos diferentes, já que o show na Casa Rockambole claramente merecia ter sido visto por mais gente. Contudo, referenciando “Carta aos Desinteressados”, não serei o mal educado que quer educar o artista. Setlists


Esteban:

1. Janeiro

2. Pra ser

3. Chacarera da saudade

4. Cigarros e capitais

5. Tango novo

6. As terças podem se inverter

7. Martes

8. O que não vem

9. Se

10. Carta aos desinteressados

11. Janeiro (reprise)

12. Noites de Berlim (Esteban toca sozinho)

13. Mundo (Abril; Esteban toca sozinho)

14. Sophia

15. Basta

16. Segunda-feira

17. Pianinho

18. Sinto Muito Blues (com César Lascano)


César Lascano (abertura):

1. Visceral

2. A Desconstrução da Ideia

3. Crua

4. Quando eu pintar teus olhos

5. Vinheta

6. Bon vivant

7. Coiso

8. Transversal da ilusão

9. Desvairada

10. A busca


Comments


bottom of page