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Extintores Não Passarão: O fim do mundo foi lindo em Interlagos

"Depois do que rolou no Rio e em Curitiba, é certo que São Paulo terá sua própria revolução. Os fãs de System of a Down já mostraram que não há regras que possam conter essa energia." Essa foi a última frase que escrevi no meu texto anterior. E agora, escrevendo esse aqui, posso afirmar com toda certeza: essa revolução aconteceu. Minha ideia inicial era escrever uma review contando como foi viver os cinco shows da banda no Brasil — uma tour intensa, única, com momentos que eu nunca imaginei viver. Cada cidade teve sua peculiaridade. Mas no fim, o último show... roubou todo o brilho do resto da tour. Foi o auge. O fim do mundo em Interlagos. Mas antes de chegar nesse desfecho, vale lembrar o caminho até ele. Curitiba, dia 6 de maio, já foi especial por si só — eu estava na lista de convidados do Shavo Odadjian, o baixista da banda que durante toda essa tour foi extremamente gentil comigo nas nossas interações, me senti querida. Isso por si só já seria motivo pra surtar, mas ver o show com esse “toque pessoal” deu um peso emocional enorme à experiência. Me senti vivendo um sonho de fã, e foi só o começo.



Dois dias depois, foi a vez do Rio de Janeiro. Nesse, fui com a filha do meu melhor amigo, que conheci no dia anterior. Uma conexão nova, num dos shows mais animados da minha vida. A gente moshou, pulou, gritou… e se divertiu como se tivesse se conhecido desde sempre. O show marcado com a rebeldia de dezenas de sinalizadores tinha ficado para a história, ATÉ ENTÃO.



Chegando em São Paulo, no dia 10, a missão antes do show era entregar um presente para o Shavo. Passei no hotel onde os membros estavam hospedado, e depois da missão cumprida fui pro Allianz Parque. A entrada foi um caos: confiscaram powerbanks e fizeram muita gente descartar itens valiosos logo de cara. Fui tentar resgatar o powerbank de uma amiga (custava quase o valor do ingresso). Acabei me perdendo dos meus amigos e assisti tudo sozinha, no meio da galera — e da tempestade. Choveu muito. Mas mesmo encharcada, eu estava feliz. Aquela era a terceira vez que eu via a banda naquela semana. E parecia que o coração só aumentava.



No dia 11, segundo show no Allianz, fui de grade. No meio. Na linha de frente. E ali eu entendi que tudo que vivi nesses anos vendo os vídeos no YouTube ganhando uma nova cor ao vivo. Vi cada música sendo tocada nos meus olhos. Vi a banda interagindo comigo. Levei uma plaquinha com a frase “Cigars yesterday, Pick today?”, uma piada interna entre eu e Shavo (como se fôssemos melhores amigos, rs). Um dia antes, levei charutos de presente pra ele. No palco, ele viu minha placa, deu um joinha e me reconheceu. Isso não tem preço.

Foi a melhor noite da minha vida, eu chorei e gritei como se não houvesse amanhã, mas ela terminou de uma maneira extremamente desagradável: fui assaltada e agredida no caminho de casa. Levaram tudo — celular, documentos, registros da tour, merch, meus trampos. Tudo, menos uma coisa: a palheta que o Shavo me deu no final do show. Essa eu lutei pra não deixarem levar. E ficou comigo, como símbolo de tudo que vivi.


Na terça, dia 13, véspera do grande final, fui novamente ao hotel onde a banda estava. Cansada de quatro shows, decidi ficar do outro lado da rua, sentada num banco, longe do aglomero de mais de 100 pessoas que também queriam ter seu momento com os integrantes da banda. Pedi batata frita pelo iFood pra entregar na calçada e fiquei ali comendo enquanto as vans chegavam. Serj, Daron e Shavo subiram direto sem atender ninguém — e eu? Eu só levantava a mão pra dar tchauzinho e voltava pra minha batatinha. Até que John Dolmayan, o baterista, apareceu. Os seguranças pediram para ninguém atravessar para não causar tumulto, e ele veio até onde estávamos. Atendeu meus amigos, e mesmo eu não tendo pedido nada, fiz meu papel de filmmaker/fotógrafa e ainda desejei melhoras — ele estava claramente gripado. E depois? Voltei pra minha batatinha feliz. Um momento aleatório e delicioso pra minha coleção. A cara dessa tour. Então chegou o dia 14 de maio. Interlagos. O fim do mundo. Cheguei no Autódromo faltando 30 minutos pro show começar, o fim de mundo não é uma piada sobre o que rolou no show, mas sim por ser longe demais pra chegar. Chegando lá eu só conseguia ver um mar de gente. Mais de 70 mil pessoas. Me esgueirei por onde dava e consegui chegar perto da frente. Estava sozinha. E por um momento, bateu o peso de tudo — do assalto, da agressão, da perda dos registros, da sensação de vulnerabilidade. Pensei em ir embora. Mas lembrei do que tinha dito pro Shavo por DM: “Não vou deixar isso acabar com a minha semana.” E fiquei. E foi a melhor decisão que eu podia ter tomado. Quando começaram os acordes de “X”, fui engolida por um mosh gigantesco. Pela quinta vez, eu estava ali, vivendo System of a Down. Viva. Entregue. E o show tava tão punk, tão caótico, que em “Prison Song” fui ejetada pra lateral esquerda junto com uma multidão. A roda que se abriu era tão grande que o público não conseguia conter a si mesmo. Os tapumes do backstage caíram. Teve gente machucada, gente derrubada… e mesmo com o susto, tudo que eu conseguia pensar era: isso é System of a Down Caralhoooo. Isso é força popular. Isso é caos. Isso é revolução.


Curti o resto do show da lateral. Só depois, vendo os vídeos de drone, consegui entender a grandiosidade daquele momento. Era gigante. Insano. Histórico. E, como o próprio Shavo me adiantou (num gesto de carinho, acho, pra alegrar minha semana): aquele show seria o maior de todos, a MAIOR SETLIST da história da banda. Não contei pra ninguém (até esse momento claro). Me foi pedido segredo.



E como uma cartada final — um último suspiro antes do fim — entrei no último spinning around de braços dados com três desconhecidos. Gritei até ficar sem voz, como se aquilo fosse meu último ato. E quando veio “Sugar”, moshei aos prantos, chorando, rindo, agradecendo pela vida. Foi ali que me despedi. Foi ali que morri um pouquinho — feliz. Teve de tudo. Chuva, frio, calor, mosh, grade. Mas teve algo que nunca teve antes.

MUITOS SINALIZADORES.

Pela primeira vez, o público venceu a batalha dos sinalizadores. Em outros shows de outros artistas, essas ações sempre foram tímidas: um aqui, outro ali, logo apagados. Mas foi na tour do System of a Down que essa chama ganhou força. Teve gente cuspindo fogo, teve luz pra todo lado. E mesmo com uma revista rigorosa — pedindo até pra tirar o tênis — o público foi mais forte. No início do show final, ainda houve uma tentativa tímida de conter a coisa. Mas diante de 70 mil pessoas vivendo o melhor momento de suas vidas, a produção simplesmente desistiu.

A rebeldia venceu. A plateia virou o próprio espetáculo.




Hoje, três dias depois do último show, os próprios integrantes da banda ainda estão postando fotos e vídeos daquele momento em Interlagos. Se eles ainda não superaram, quem somos nós pra superar? Talvez esse fim do mundo tenha deixado a gente vivo demais pra esquecer.


O fim do mundo foi lindo.

1 Σχόλιο


Vinicius Ribeiro
há 3 dias

Alegria por ter feito parte dessa tour, e principalmente por estar no dia 14. Eu tb já vi incontáveis “shois”, mas esse pegou um lugar que dificilmente algum outro poderia tirar. Ansioso pelo próximo SOAD no Brasil 🇧🇷🔥🤘

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