Papa Emeritus IV: o medo de ter um fim - A LORE POR TRÁS DO GHOST [PARTE 6]
- Ellen Artie
- há 3 dias
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A história de Impera não é apenas sobre a ascensão e queda de impérios. É sobre o medo do fim, sobre um artista que finalmente se vê no auge e não quer que isso acabe. Cardinal Copia, agora Papa Emeritus IV, conquistou o impossível: foi o único Papa a liderar o Ghost por dois ciclos de álbuns completos, algo que nenhum de seus antecessores conseguiu. Mas enquanto ele brilha nos palcos, nos bastidores, ele começa a perceber que o tempo está passando – e talvez o dele esteja se esgotando.

Aos poucos, o medo da morte, da substituição e do esquecimento toma conta de Cardi. E nessa fase, chamada de Impera, vemos um personagem que oscila entre o estrelato e a ansiedade, entre o riso e o colapso. Cardi demonstra mais medo do que nunca.

Chapters 9 a 11: tensões e verdades mal contadas
Após as plásticas estéticas vistas em Chapter 9: Tomb It May Concern, tanto o Papa IV quanto a Sister Imperator voltam com novos rostos. Há uma tensão sutil entre eles, e pela primeira vez, é sugerido explicitamente que Sister é a mãe de Copia. A forma como ela o trata (“meu pequeno Cardi”) e a relutância em chamá-lo de Papa só alimentam essa teoria – que mais tarde será confirmada no filme
No Chapter 10, Papa volta para casa e encontra um presente nostálgico: seu triciclo. Ele ainda se vê com “Cardi”, um menino que ainda está tentando provar que merece estar ali. Ao abrir a porta de casa montado no triciclo, encontra Sr. Psaltarian — um personagem frio, educado e sutilmente manipulador, que mais tarde será revelado como a figura responsável por criar o próprio Copia. Essa revelação só aconteceu recentemente, mas muda totalmente a forma como enxergamos essa relação: Sr. Psaltarian não é apenas parte do Clero, mas também o arquiteto da existência do Papa IV.
O jantar de família no Chapter 11 marca o início de uma cobrança formal. Papa IV é informado de que precisa realizar pelo menos 150 shows – um número bem acima do que qualquer um dos Papas anteriores completou. A pressão aumenta a cada garfada de macarrão. Sr. Psaltarian assume o papel de contador pragmático e a Sister tenta suavizar o clima. Mas a mensagem está clara: o tempo de Copia pode estar contado — mesmo que ele não admita.
Chapters 13 a 17: absurdo, ansiedade e um caixão no corredor
Entre o karaokê com Joe Elliott no Chapter 15 e a luta corporal com Psaltarian na casa de praia no Chapter 13, os capítulos seguintes mergulham num humor absurdo que esconde uma tensão crescente. A viagem de carro do Chapter 14, com todos os personagens reunidos, ganha contornos surreais: Nihil, já morto, está de volta ao banco de passageiros, questionando por que apenas uma de suas músicas estourou no TikTok. A canção em questão é “Mary on a Cross”, que dentro da lore é uma obra de Nihil. Enquanto Cardi zomba, o que não se diz em voz alta entre flatulências é mais pesado: o sucesso póstumo de Nihil pode ser um presságio.
No Chapter 16, a metáfora se torna concreta. Um caixão de vidro novinho aparece sendo empurrado lentamente pelos corredores do Clero. Papa IV presencia a cena e imediatamente tenta se esquivar do assunto. Diz que está ocupado fazendo os impostos — uma piada com o período de declaração nos EUA — mas, na verdade, está jogando videogame. A imagem do caixão, porém, o perturba profundamente. Não é apenas um item decorativo: é um sinal de que seu fim pode estar sendo planejado.
Já no Chapter 17, Papa IV vai até o túmulo de Papa Nihil, não para pedir conselhos ou refletir sobre a morte, mas para entregar o Golden recebido pela música “Mary on a Cross”. A entrega é simbólica: o reconhecimento é de Nihil, e não seu, e, mesmo zombando da situação em que Nihil se encontra (morto e com dores físicas como se estivesse vivo), ele entende que está homenageando alguém que fez história — e que talvez esteja prestes a se tornar ele mesmo alguém que será apenas lembrado.
Rite Here Rite Now: o passado que não foi contado
“O Grande Além. A escuridão infinita do universo, com todos os segredos que a humanidade jamais compreenderá. O conceito de eternidade… ou o risco de nunca experimentá-la...”

É assim que começa Rite Here Rite Now, o filme-concerto do Ghost que mistura show ao vivo com uma narrativa cheia de revelações. A história se passa em setembro de 2023, em uma noite aparentemente comum da Re-Imperatour.
Depois de cinco anos no comando da banda, dois álbuns e uma turnê que se estendeu muito além do esperado, Cardi começa a sentir o peso da iminência do fim. Ele sabe que, no Ghost, todos os Papas acabam substituídos. E a ideia de ser descartado, mesmo estando no auge, começa a consumir ele. “Por que algo que tá indo tão bem não pode continuar?”, ele pergunta. A dúvida não é só dele — é de todo fã que já se apegou demais a uma era da banda.

Ao longo do filme, a gente acompanha essa insegurança se transformando em medo real. A presença constante da Sister Imperator (que descobrimos ser sua mãe) e do Papa Nihil (seu pai, agora em forma de fantasma) empurra Cardi pra esse confronto com o inevitável: sua era tá acabando, e ele precisa aceitar.
Nihil reaparece cheio de ironia e ressentimento, mas também com um último presente: uma música inédita chamada The Future Is a Foreign Land, a tal terceira música que ele compôs (Cardi achava que eram só duas). É mais que uma música — é um recado direto sobre as incertezas que a vida dá.

Em meio a tudo isso, tem momentos de humor, tensão e até alucinação. Nos bastidores ele está visivelmente abalado, no palco é interrompido por Sodo em Ritual, reclama, bate boca com os fantasmas, briga com o passado. Em uma das cenas, questiona: “Quem decide tudo isso? Quem manda aqui?”. E Nihil responde com uma visão mais ampla sobre tempo, ciclo e legado. É nesse ponto que a história começa a mudar de tom.
No meio do caos, o filme ainda entrega momentos inéditos que os fãs esperavam há tempos, como a estreia de Twenties com dançarinos esqueléticos no palco, um baita spoiler visual do álbum que viria depois, Skeletá.

Já perto do final, a coisa fica emocional de verdade. Durante Pro Memoria, Cardi entra num balão, se despede de sua mãe nos bastidores, e tudo muda nos bastidores: Sister Imperator colapsa e morre. Em choque, ele recebe uma carta onde ela explica que escondeu a doença pra não atrapalhar seu foco. Diferente dos Papas anteriores, Cardi não vai morrer. Não dessa vez. Em vez de ser aposentado como os outros, ele sobe de cargo: agora é Frater Imperator, o novo líder do Clero. Sai dos holofotes, mas continua no comando dos bastidores, carregando a herança da Sister e do próprio Nihil. É uma promoção, ainda que ele não tenha exatamente pedido por isso.

O novo vocalista? Também já está entre nós. Em flashbacks da vida da Sister, uma revelação: Cardi tem um irmão gêmeo. Um segundo filho escondido, que agora assume o microfone como o novo Papa — e que carrega tanto mistério quanto a nova era que está por vir.
De volta ao Clero, Cardi aparece ao lado dos fantasmas que moldaram sua vida: Nihil, Sister, e os gêmeos — cujos segredos serão contados mais adiante nas HQs oficiais da banda. É a transição final. A era Impera se encerra ali, entre despedidas e ressentimentos.
Na próxima parte do nosso guia, vamos mergulhar na nova fase do Ghost: tudo que sabemos sobre Papa Emeritus V, os mistérios por trás do álbum Skeleta, e tudo que veio depois da era Impera. Porque, no fim das contas, o show nunca para.
Revisão: Jay F.