Punk is Coming estreou em grande estilo e, pelo que vimos nesse terceiro dia, tem potencial para ser recorrente. Ficou evidente o interesse do público pelo nicho, já que o Allianz Parque (assim como os outros locais) estava repleto de ouvintes ansiosos. As bandas selecionadas para integrar o lineup ficam entre pura nostalgia dos anos 90/00 e a curiosidade para ver performances de novas bandas. Uma ótima sacada da produtora 30e, a qual soube mesclar e introduzir bandas novas para um público veterano.
Em pleno Dia Internacional da Mulher, a presença de palco de Amy (Amyl and The Sniffers) foi energizante, uma ótima escolha de abertura. O show apesar de rapidinho, 45 minutos, foi muito bem aproveitado. A vocalista que já estava no clima do Brasil, interagiu com o público o tempo todo. Mesmo sendo um desafio se apresentar para uma plateia que ainda chegava aos poucos, em um calor de 30°C às 14h, a banda foi um combo punk: vocal feminina com postura irreverente, performance dramática, som ritmado e letras cruas, provocantes e audaciosas.

A banda tem uma trajetória de quase 10 anos na Austrália, o que me surpreendeu muito e me fez refletir sobre como enxergamos pouco do que há no mundo musical. Festivais como este nos possibilitam conhecer novas bandas. Mesmo separados por continentes, costumes e culturas, a música tem o poder de gerar identificação. As músicas gritadas, bem característica do punk, não escondem letras fofinhas e vivencias suavizadas, a voz de uma mulher forte que sabe se impor e falar o que pensa, a reação da galera foi bem positiva. O setlist contou com "Hertz", "Jerkin", "Got You", "Big Dreams", "Security", "U Should Not Be Doing That" e entre outras. E te garanto que se punk feminino te agrada, ouça por que vale a pena.
Na sequência a banda queridinha do público que madrugou na fila, The Warning, três mulheres fazendo um som pesado e impecável. Completamente compreensível tentar garantir a grade nesse show, a vocalista e guitarrista Daniela é super carismática e interpreta a música de forma visceral. A melodia pesada se combina com letras que refletem um desconforto comum a todos: vestir uma armadura para enfrentar o mundo e o desejo de liberdade.

Se tudo isso ainda não foi suficiente para instigar sua curiosidade, vale lembrar que é uma banda familiar: três irmãs mexicanas. E novamente, surpreendida por não saber, a banda foi fundada em 2013, e nessa trajetória é a primeira vez que cruzam as terras tupiniquins, e Dany até arriscou umas palavrinhas em português, e se saiu muito bem em seu agradecimento. Iniciou o set com a música “SICK” e cantou as mais esperadas pela galera "Hell You Call a Dream", "Automatic Sun", "Evolve" algumas outras e encerrou com "Dull Knives (Cut Better)".
Neste momento, na minha humilde opinião, deveria ter entrado “Sublime” que tem tudo a ver com um fim de tarde, curtir uma vibe... Mas o cronograma seguiu com THE DAMNED.
O que as bandas anteriores tem de recente, The Damned tem de experiente. A banda foi fundada no berço do punk, Londres, na década de 70. Eu estava bem animada para ver esse show histórico. Com um vocal mais ritmado e um punk com pegada James Dean, ver Dave Vanian perambulando pelo palco enquanto canta a todo vapor me fez pensar: como ele não cansa?

A banda dedicou esse show ao guitarrista Briam James, que faleceu um dia antes da apresentação solo da banda em São Paulo. Em toda sua glória e maturidade, o setlist estava um túnel do tempo com as mais aguardadas do público "Born To Kill", "Noise Noise Noise", "Neat, Neat, Neat", "New Rose" e rolou até um cover de “Eloise” e "Smash It Up". Curti bastante o punk dançante, que te transporta realmente pra época dos rockabilly, uma viagem gostosa e que agitou o público, já que ainda teríamos mais 3 bandas a se apresentar.
Rise Against pegou a galera animada do show anterior e conseguiu elevar ainda mais. As caixas de som explodindo no máximo que podiam e a vibração no front era inevitável. O vocalista Tim soube solicitar a regulação do som no início do show e, após calibrado, melhorou, mas o vocal ainda ficou baixo em alguns momentos. O que estava faltando no volume, sobrava na atitude, Tim se movimentava pelo palco como se reivindicasse o espaço e incentivando a galera. Tivemos várias rodinhas em qualquer batida mais pesada, e era isso que o público esperava !

O setlist passou por "Re-Education (Through Labor)", "Savior", "The Violence", "Give It All", "Ready To Fall", "Prayer Of The Refugee" e algumas outras, tendo um destaque especial à uma versão acústica de "Swing Life Away" pouco depois de cantar aos berros no megafone em "Satellite". Em todos os momentos, o público estava vidrado e respondia a cada interação. Mesmo o show tendo 12 músicas, foi grandioso. Neste momento, o estádio já estava lotado e a sinergia do público estava ligada à banda, e mesmo depois de terem encerrado, ainda dava pra sentir a agitação.
Pouco tempo depois, Sublime já ocupava o palco. A banda iniciou os primeiros acordes de "Garden Grove" e um toque de reggae tomou conta do espaço, e então pareceu que o tempo desacelerou. Com as músicas mais calmas e um compasso que me remetia à arrastar os chinelos do calçadão da praia, o vocalista Jakob estava muito animado e dançante durante toda apresentação, sendo o mais jovem do grupo se mostrou enérgico e feliz em estar se apresentando com a banda originária de seu pai Bradley Nowell.

Com o dobro de tempo das bandas anteriores, Sublime tocou um set que navegou pela trajetória da banda e deixou o público mais calmo e passivo, com os hits "Doin' Time", "Same In The End", "Badfish" e dois covers: "Jailhouse" (cover de Bob Marley & The Wailers) e "Feel Like That (cover de Stick Figure).
Quase no finalzinho do show, Jacob chama Noodles para tocar "What I Got", momento em que o público ficou completamente animado. Foi uma participação bem rapidinha e, após mais algumas músicas, a tão esperada “Santeria” veio para finalizar o show.
Nesse momento o ambiente foi ficando mais apertado pois a galera já estava na expectativa do show de encerramento. Para entreter o público, o telão exibiu alguns conteúdos interativos como um quiz sobre a banda e Dexter e Noodles caracterizados em 8bit como bonequinhos de vídeo game. A caveira azul da ilustração da capa do Supercharged começou a animar a galera ao som de AC/DC com uma contagem regressiva marcando o inicio do show.
A banda entrou ao som dos gritos enlouquecidos de quase 40 mil pessoas, o estádio ovacionava em expectativa do inicio dos primeiros acordes, mas o que veio primeiro foi Ya, ya, ya, ya, ya... o com a pedrada "All I Want" e não dava pra ficar no lugar mesmo que quisesse, entre pulos a letra saia gritada de cada um da plateia, foi incrível.
Em seguida "Come Out And Play" e "Want You Bad", que conversou com minha adolescente interior, logo depois "Staring At The Sun" e inesperadamente “Mota” que não era tocada ao vivo hó mais de 5 anos. Também tivemos a presença de Jason "Blackball" que entrou no palco apenas para cantar MOTA e saiu logo na sequência.
Em comemoração à turnê, "Come To Brazil" não poderia faltar na setlist, uma vez que sabemos que foi por causa dela que a banda veio nos prestigiar. A visita da banda está promovendo um relacionamento mais intimo com seu público, já que não faz muito tempo que a mesma veio tocar no Lollapalooza.
Após animar o pessoal com a introdução de "Hit That", a banda emendou com "Original Prankster" e foi uma loucura! O pessoal não parava de pular e gritar. Ainda rolou uma brincadeirinha de um medley de covers: ''Smoke on the Water'' / ''Man on the Silver Mountain'' / ''Iron Man'' / ''Back in Black'' / ''In the Hall of the Mountain King'' e "Blitzkrieg Bop" (cover de Ramones).
Após isso, a banda voltou para as autorais com "Bad Habit" e "Gone Away", que não eram tocadas há um bom tempo.
Foi uma noite especial para os nostálgicos, com uma atmosfera de viagem espacial e projeções galácticas no telão. Nesse clima, "Why Don't You Get A Job?" foi pura diversão! Bolas infláveis foram jogadas para o público, e, com a música animada, foi incrível ver o estádio tomado por confetes voando. A atmosfera era de celebração. O show seguiu ainda mais animado com "Head Around You", "Pretty Fly" e "The Kids Aren't Alright".

E mesmo após uma setlist completo, ainda presentearam o público com mais duas músicas: "You're Gonna Go Far, Kid" e "Self Esteem", encerrando a noite com a energia lá em cima e com direito à fogos iluminando o céu, chuva de confetes e um show de luzes. Foi um dia intenso, repleto de artistas incríveis, e valeu a pena cada segundo. Na saída, era visível no rosto da galera o cansaço misturado à satisfação.
Agora, resta a expectativa: será que essa celebração do punk veio para ficar? Se depender do entusiasmo do público e da qualidade dos shows, a resposta já está dada.
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